Para Além do Século XVII
- J.K. Rowling
- 9 de mar. de 2016
- 4 min de leitura
Quando os No-Majs europeus começaram a emigrar para o Novo Mundo, mais bruxas e bruxos de origem europeia também resolveram se fixar na América. Como seus conterrâneos No-Majs, eles tinham várias razões para deixar seus países de origem. Alguns foram levados por um senso de aventura, mas a maioria estava fugindo: às vezes da perseguição dos No-Majs, às vezes de algum outro bruxo, mas também das autoridades mágicas. Esses queriam se misturar com o crescente afluxo de No-Majs ou se esconderem entre a população bruxa indígena americana, que, geralmente, era receptiva e os protegiam dos irmãos europeus.
Porém, pela primeira vez ficou claro que o Novo Mundo era um ambiente muito mais hostil para os bruxos do que o Velho Mundo. Havia três razões principais para isso.
Primeiramente, como seus conterrâneos No-Majs, eles foram para um país com poucas comodidades, exceto pelas que eles mesmos fizeram. Na terra natal, eles só tinham que visitar o Boticário local para encontrar o necessário para as poções: agora, tinham que explorar plantas mágicas desconhecidas. Não havia artesãos de varinhas estabelecidos e a Escola de Magia e Bruxaria de Ilvermorny, que um dia figuraria entre os maiores estabelecimentos mágicos do mundo, não passava na época de um barracão com dois professores e dois alunos.
Em segundo lugar, as ações dos companheiros No-Majs faziam parecer encantadoras as populações não mágicas da terra natal de grande parte dos bruxos. Como se não bastassem só os conflitos ocorridos entre os imigrantes e a população indígena americana, o que foi um duro golpe para a unidade da comunidade mágica, os imigrantes, devido as suas crenças religiosas, também se tornaram profundamente intolerantes com qualquer rastro de magia. Os puritanos adoravam acusar uns aos outros de ocultismo ao mais ínfimo indício, por isso os bruxos e bruxas do Novo Mundo agiam bem ao manterem extrema cautela.
O último problema, e provavelmente o mais perigoso, encontrado pelos bruxos recém-chegados à América do Norte eram os Purificadores. Como a comunidade bruxa norte-americana era pequena, dispersa e secreta, ainda não havia nenhum mecanismo próprio para a aplicação da lei. Isso deixou um vácuo que foi preenchido por um grupo inescrupuloso de bruxos mercenários de muitas nacionalidades diferentes, que formaram uma temida e brutal força-tarefa empenhada em caçar não só criminosos conhecidos, mas qualquer um que rendesse algum ouro. Com o passar do tempo, os Purificadores tornaram-se cada vez mais corruptos. Distantes da jurisdição de seus governos mágicos nativos, muitos se apaixonaram pela autoridade e crueldade injustificada de sua missão. Tais Purificadores apreciavam a carnificina e a tortura, e até mesmo traficavam seus companheiros bruxos. O número de Purificadores se multiplicou por toda a América no final do século XVII, havendo nesse período evidências de que chegaram ao cúmulo de fazer crer que No-Majs inocentes eram bruxos, pois assim coletavam recompensas dos membros crédulos da comunidade não mágica.
O famoso Julgamento das Bruxas de Salém de 1692-93 foi uma tragédia para a comunidade mágica. Historiadores bruxos concordam que, entre os chamados juízes puritanos, havia pelo menos dois Purificadores conhecidos, que se desforravam de desavenças criadas em solo americano. Alguns dos mortos eram de fato bruxos, embora completamente inocentes dos crimes pelos quais foram acusados. Outros eram simplesmente No-Majs que tiveram a infelicidade de serem apanhados pela histeria geral e a sede de sangue.
Salém foi significativa para a comunidade mágica por razões muito além da trágica perda de vidas. Seu efeito imediato foi a fuga de bruxos e bruxas da América, fazendo também com que muitos outros desistissem de se estabelecer por lá. Isso levou à interessantes variações na população mágica da América do Norte, comparada às da Europa, Ásia e África. Até as primeiras décadas do século XX, havia menos bruxos e bruxas na população americana em geral do que nos outros quatro continentes. Famílias puros-sangues, que eram bem informadas pelos jornais bruxos sobre as atividades dos puritanos e dos Purificadores, raramente iam para a América. Isso resultou numa porcentagem muito mais elevada de bruxas e bruxos nascidos-No-Majs no Novo Mundo do que em qualquer outro lugar. Mesmo que tais bruxos e bruxas ainda procurassem casar e formar famílias inteiramente mágicas, a ideologia puro-sangue que permeou grande parte da história da magia na Europa ganhou muito menos impulso na América.
Talvez o efeito mais significativo provocado por Salém tenha sido a criação do Congresso Mágico dos Estados Unidos da América (Magical Congress of the United States of America) em 1693, predatando a versão No-Maj em cerca de um século. Conhecido por todos os bruxos e bruxas americanos pela abreviação MACUSA (geralmente pronunciada como: Mah – cuz – a), foi a primeira vez que a comunidade bruxa da América do Norte se reuniu para criar leis próprias, estabelecendo efetivamente um mundo mágico dentro de um mundo No-Maj, como na maioria dos outros países. A primeira tarefa do MACUSA foi levar a julgamento os Purificadores que haviam traído os seus. Os condenados por assassinato, tráfico de bruxos, tortura e todas as outras crueldades foram executados por seus crimes.
Muitos dos Purificadores mais notórios escaparam da justiça. Com mandados de prisão internacionais em seus encalços, eles desapareceram permanentemente dentro da comunidade No-Maj. Alguns se casaram com No-Majs e formaram famílias em que as crianças mágicas pareciam ser depreciadas em favor dos filhos não-mágicos, para manter o disfarce do Purificador. Vingativos e segregados de seu povo, transmitiram a seus descendentes uma absoluta convicção de que a magia era real e a crença de que bruxas e bruxos deveriam ser exterminados onde quer que se encontrassem.
O historiador mágico americano Theophilus Abbot identificou várias dessas famílias, todas acreditam profundamente em magia e nutrem um grande ódio sobre ela. Acredita-se que as crenças e atividades antimagia dos descendentes das famílias dos Purificadores sejam em parte o porquê de os No-Majs norte-americanos serem mais difíceis de enganar e ludibriar do que qualquer outra população. O fato provocou grande repercussão na maneira como a comunidade bruxa estadunidense é governada.

traduzido / revisado / postado por: KALEL PESSANHA
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